O crescente interesse dos consumidores russos por vinho, surge numa ótica da globalização do comércio de vinhos, ou seja, é um consumidor que procura vinho de todo o mundo, sem obedecer a critérios de qualidade, embora os vinhos franceses sejam reconhecidos no mercado precisamente pela sua qualidade. Existe no entanto um interesse cada vez mais significativo por vinhos de qualidade. O consumidor russo está mais informado e conhecedor, reconhecendo que a produção de vinho de qualidade não se restringe a apenas um ou dois países.
O consumo de vinho por parte dos consumidores russos é um sinal claro de ostentação, luxo e poder económico. Ao apostar numa maior formação do mercado, o papel que o vinho representa a nível das classes mais altas pode eventualmente replicar-se à classe média e assim incrementar o comércio de vinhos a um número mais alargado de consumidores.
Hoje em dia o consumo de vinhos é uma prática dispendiosa. Existe uma grande especulação e majoração dos preços das garrafas, e o consumidor quando compra vinho investe bastante para obter bons vinhos. Este efeito faz com que o consumo de vinho por pessoa seja ainda muito baixo, com apenas 7,2 litros de consumo de vinho por pessoa ao ano (Fonte: OIV, 2015). Este é contudo, um número que acredito irá crescer, dando assim continuidade à média verificada nos últimos 10 anos.
Portugal é um país completamente desconhecido do consumidor russo, de tal forma que isso pode constituir uma mais-valia para a entrada de vinhos portugueses. Na minha opinião, se conseguirmos comunicar a excelência dos nossos vinhos, temos uma forte hipótese de entrar neste mercado com bons vinhos a preços competitivos.
A economia russa tem crescido de forma sustentável e o aumento da classe média é também um bom presságio para o consumo futuro de vinhos.
Atualmente verifica-se que o consumidor russo avalia a qualidade dos produtos que consome pelo preço que paga por garrafa, um comportamento típico dos consumidores mais jovens, em que a associação ao preço reflete a qualidade idealizada. Com a maturidade do mercado haverá, naturalmente, uma quebra de preços e os padrões de qualidade serão diferentes, passando, a meu ver, a ser mais justos, porque a simples majoração do preço das garrafas por parte do vendedor não reflete de forma alguma a qualidade do produto. Por isso, numa lógica de mercado, esta será uma oportunidade para a colocação de bons vinhos de média e alta gama mas a preços mais baixos aos praticados. Neste quadro, os vinhos portugueses de média e alta gama podem explorar este mercado com o conforto de praticarem preços inferiores aos existentes, garantindo, na maior parte das vezes, uma qualidade superior.
Quando este salto for feito a maior barreira e o desafio que se irá colocar ao produtor e vendedor será a comunicação. A informação relativa à história dos vinhos ou às castas, deverá ser em russo, inclusive a nível dos sites dos produtores, que também aqui deverão privilegiar esta língua como fator determinante para chegar ao consumidor. Trata-se de oferecer um serviço especializado. Tratando-se de um mercado ainda jovem no consumo de vinhos, a formação dos consumidores em torno das castas portuguesas, da tradição na produção de vinho ou das características de cada vinho, será uma forma de cativar e atrair a preferência do consumidor russo, bem como uma boa estratégia para vender os serviços de Enoturismo e atrair o consumidor a conhecer as adegas.